Roberto Alban Galeria

Artistas Artista

Eriel Araújo

As 4 óperas de 4 instaladores

Luiz Alberto Ribeiro Freire

Definir o momento artístico atual na Bahia é tarefa das mais complicadas, pois várias são as manifestações e vários são os seus aspectos. Aspectos que nos remetem a vários tempos diferentes ou que mantém uma atemporalidade, quase como um desafio a dinâmica da vida. 

No espaço geográfico soteropolitano é possível identificarmos muitas artes que se orientam por vários quadrantes: artistas ditos primitivos que persistem na sua ordenação colorida e geométrica da cidade, do campo e das pessoas; artistas do barro que esculpem seus santos numa linguagem que revive o barroco, aqueles que fazem refletir seu cotidiano nas suas obras; artistas anônimos que dotam os seus instrumentos de trabalho de uma estética que lhe suprem a necessidade do belo; artistas manifestos que intelectualizam o seus fazeres e buscam incessantemente linguagens que reflitam as suas identidades, afetos, engajamentos, técnicas e anseios... 

ERIEL ARAÚJO em "MutAÇÂO silenciosa" opta pela parafina e pelo carvão, o carvão industrializado para o artista, aquele que se compra em bastões nas lojas de produtos artísticos e com eles se desenha sobre papel. Esta escolha não se faz aleatória, mas com a nítida intenção de fazer dialogar os materiais entre si. Eriel trabalha com o conceito do desenho enquanto linguagem própria e contemporânea, ele toma o carvão não mais para desenhar como fazia e como fazem os artistas e sim para compor paralepípedos de parafina, dentro dos quais os carvões se alinham ritmicamente em posição vertical, horizontal, como numa partitura de melodias visuais. O efeito é mais significativo quando estes blocosobjetos estão dispostos numa linha, na parede da sala, e produzem uma continuidade em que podemos ver compassos, síncopes, alegros, andantes, e trinados. No centro da sala, vários fardos de algodão com o formato comum de quando ele é levado à indústria, compõem um bloco, que sustenta outros de gelo formado com essência de madeira e carvão. Os blocos de gelo derretem às vistas do público e completa a idéia de um processo que não pudemos presenciar nos blocos de parafina, mas que o artista nos faz de testemunha do processo. A essência de madeira completa a ópera que pretende também produzir um efeito olfativo no espectador, fato que não é aleatório, mas evoca a madeira queimada para produzir o carvão, bem como uma gama de recordações que a essência pode despertar no fruidor. 

Em "Reflexo guardado" o artista continua no seu trabalho de se apropriar de objetos industrializadas, já com formatos predefinidos, e associá-los em torno de uma ideia, como transmissores de mensagens. Aqueles pequenos espelhos de bolsa, ovalados, vendidos nas feiras livres e no comércio popular. Eles são dispostos lado a lado, formando um painel, e no centro de cada espelho uma bolinha de naftalina evoca os reflexos guardados na gaveta, na bolsa, no coração, e na mente. 

A intenção do autor é fazer com que ao se aproximar da instalação o "fruidor aspire os vapores gerados da sublimação da naftalina, podendo vir a lembrar de seus guardados, mas ao chegar perto, verá a sua própria imagem guardada por um instante nos espelhos" . 

O uso de objetos industrializados e do cotidiano aproxima a manifestações descritas, da arte minimalista e da pop arte, mas as pequenas e significativas intervenções do autor acentua o conceitualismo das suas intenções. 

Em "A busca dá imagem" o artista fornece aos visitantes os materiais e o fenômeno, ou seja, mesa, velas, parafina e espelhos e convidando-os a participarem diretamente da obra, transformando-os em mais um protagonista. A instalação não está completa ela se complementa por uma ação do fruidor, que "para se ver refletido nos espelhos é levado a aquecer a placa metálica para que a parafina sólida depositada sobre os espelhos derreta-se e possibilite o reflexo da imagem do fruidor, mas ele poderá ter surpresas e até frustrações, pois em partes da mesa não haverá espelho, o que impossibilitará o encontro com a imagem-reflexo" . Aqui os visitantes são agentes, saem da posição passiva e atuam, pois a instalação se complementa nos seus movimentos e atitudes. 

Luiz Alberto Ribeiro Freire. Historiador da Arte. Doutor em História da Arte 

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