DIÁLOGO DAS CORES, DIÁLOGO DAS FORMAS
Moacy Cirne
A contribuição estética de Falves Silva para a história do poema/processo é inestimável. (O mesmo se diga das contribuições de Jota Medeiros, Dailor Varela e Anchieta Fernandes.). A partir de uma leitura semiótica centrada nos referenciais metagráficos de Wlademir Dias Pino, o poeta potiguar construiu, com régua, talento e compasso - e também Boa dose de Intuição criadora -, mais do que uma obra-em-progresso. A rigor, e com rigor, soube construir, em 40 anos, uma verdadeira obra-em-processo.
Neste sentido, o seu diálogo das cores é a resposta necessária e atualizada para o olhar crítico que, em Natal e no Brasil, remonta a 1967 e anos seguintes. E o que poderia ser mera redundância formal, através de aparentes repetições visuais, passa a ser metacriação (há que perguntar: metacriação desejante ou simplesmente significante?), considerando, aqui, os modelos práticos que redimensionam a estrutura dos quadrinhos e, por extensão, neste caso particular, as propostas estético-Informacionais de Alvaro de Sá.
Mas se, em Falves Silva, existe um diálogo de cores, existe de igual modo, um diálogo de formas, o que impõe dizer: existe um diálogo de transformações. Sim, em se tratando de poema/processo, a forma Implica transFORMAção, assim como um texto implica, em última Instância, conTEXTO e o poema Implica necessariamente POEMAção. Não existe poema/processo inerte e/ou passivo, obra acabada para ser contemplada em sua concretude "fechada” (a não ser como registro documental): todo e qualquer poema/processo resulta em "diálogo metacriativo” com o leitor, potencialmente um co-autor do poema, já que o "diálogo”, assim particularizado no campo da metacriação, estabelece-se a partir de projetos que são, por definição, Inaugurais.
Decerto, nesta perspectiva, todo poema/processo é um gesto político: gestualidade transformadora. Ou melhor: politicamente político. Como o cinema de Godard. Como o cinema de Straub & Huillet. Como o teatro de Brecht. Como a poesia de Maiakóvski. Como a pintura de Picasso. Como a arte de Hélio Oiticica. Como o cinema de Vertov. Como o cinema de Luiz Rosemberg Filho. Esclareçamos, esclareçamos: não se trata, aqui, de política partidária ou panfletária, ou mesmo de política entendida sociologicamente. Trata-se de outra coisa.
Trata-se de uma política construída a partir de premissas e leituras experimentarias, leituras que fazem da FORMA desencadeadoras transFORMAções. Diremos mais. E mais diremos: no poema/processo, a não ser eventualmente, e mesmo assim dependendo de alguma espécie de leitura subjetiva, não há espaço para a poesia, abstração poética; há espaço para o produto, concreção semiótica. Concreção essa que se revela capacitada para abrir caminhos e veredas em nome de uma dada (e possível) "estética da poeticidade libertinária”.
Assim sendo, sendo assim, o diálogo das cores não foge ao experimentário, não foge à leitura baseada no projeto que se pretende inaugural. A dupla homenagem que é feita pelo autor (à estrutura dos quadrinhos/aos poemics de Alvaro de Sá) não é gratuita. Afinal, se no livro de Falves Silva não há lugar para a poesia (embora haja, e muito, para a emoção estética), há lugar para o poema - o poema que explora, gráfica e plasticamente, os meandros produtivos da poeticidade como linguagem não-verbal.