Tonm
Francisco Antônio Zorzo
Os Trabalhos de Josilton Tonm soam a uma enorme brincadeira. São objetos construídos por um mestre de oficina de marcenaria delirante. Um exemplo de um trabalho desse artista: 42 pecinhas de madeira compondo uma escultura pêncil. Outro exemplo: 3 chapas de ferro recortadas e furadas, obtidas por obra do acaso, que soldadas compõem a figura de uma coruja.
Desde o inicio dos anos 1970, a viagem em que Tonm se empenha consiste em compor um interminável mundo de objetos escultóricos. O resultado desse empenho é difícil definir, tamanha diversidade e a gama de interesses compositivos. Tonm tem um temperamento irrequieto, mistura de artesão e artista, mecânico e filósofo. Sua produção plástica começou com as talhas de madeira e foi se desenvolvendo tridimensionalmente, chegando à escultura com os mais variados materiais. As talhas foram, originalmente, a escavação arqueológica de um mundo próprio de figuras líricas, peixes, flores, blocos mágicos, pássaros, bolas, e assim por diante. Das pequenas talhas para as portas lavradas e para os grandes painéis foi um pulo. Tonm desdobrou-se nos entalhes e exauriu todas suas energias na descoberta de seres e objetos que se somavam num universo armado em modelo reduzido. Até que um dia a brincadeira criativa originou um novo jogo de linguagem.
Na nova fase, ocorrida após os anos 1980, entraram em combinação com os procedimentos intuitivos anteriores uma série de operações formais diversificantes. É como se o artista estivesse cansado de se concentrar naqueles modelos e de repetir as sínteses anteriores. E assim, usando a varinha mágica ao revés, ele se tocou que era chegada a hora de tentar alterar o conjunto de objetos fabricados. Furar, pendurar, encaixar, encaixotar, vazar e fragmentar foram algumas das operações a que Tonm se dedicou a partir de então. Essas ações resultaram em duas grandes tendências artísticas, uma delas que operava no sentido de dar vida ao elemento material encontrado, compondo globalmente uma nova forma tal com era vislumbrada ao relance de olhos, a outra de mais vagar e reticência, acostumou-se a operação mais lenta e delicada, de expectativas intermináveis, de um sonhar mais tranquilo com a coisa de ser parida e de agregar valor onírico aos objetos futuros.
Tonm dotou-se de muita coragem, a coragem de romper com o gosto dominante, e até mesmo com o próprio gosto acumulado nas extensas séries que construiu. Se o resultado obtido é perecível ou não, se ele vai atender ou não às expectativas do contexto da arte contemporânea, isso parece importar muito pouco quando o artista se coloca perante o alto encargo de sua produção. Tonm assumiu unicamente o compromisso produtivo de criar formas e responder à lógica de suas concepções. Assim nascem peças as mais curiosas, cabeças e máscaras de madeira ou de pedra, dorsos rombudos ou protótipos de máquinas de turbinar a natureza.
Feliz de quem viaja.