Julio Alves
Marcelo Campos
Artista residente do subúrbio ferroviário de Salvador, Julio Alves (1996) inicia sua recente trajetória no grafitti e na pichação. Dali, entende os processos de trabalhar em coletividade, objetivando a pintura em áreas públicas da cidade. Contudo, o interesse pelo desenho, talvez, hoje, seja o que melhor defina as etapas de criação desse artista, cuja produção atual se destina, dedicadamente, à pintura sobre tela.
Nos esboços de ideias realizados em desenho, vemos linhas que conformam áreas volumosas, arredondadas. E tal configuração cria uma singularidade de produção que ora se encaminha ao viés mais fantasioso, fabular, ora se organiza em criações de ecologias próprias, sobretudo quando Julio Alves intenta a produção de naturezas mortas. Há muita similitude entre os interesses desse pintor e criações de outros e outras artistas. Talvez possamos pensar e citar as pinturas de Georgia O’Keeffe com elementos paisagísticos e botânicos em degrades de forte acentuação. De outro modo, uma geração baiana mais inclinada a abstrações, como o próprio Juarez Paraíso, por exemplo.
Na composição com figuras, Alves nos afirma se interessar por rostos e cabelos de pessoas negras, destacando olhares amendoados, peles e ambientes em marrons terrosos e fundos que contrastam com cores complementares. Causa particular identidade o modo de produzir a passagem de tons, pois as áreas mais escurecidas ganham destaque, justamente quando outras figuras aparecerão para nos associar e dissociar, concomitantemente, da realidade.
A permanência da linha do horizonte faz, das pinturas de Julio Alves, rememorações do que já fora chamada de "pintura metafísica" ou do que o surrealismo entregou à manifestação do inconsciente. Apesar disso, nas mais recentes discussões, nos dedicamos a outras cosmopercepções, nos aproximando de outros céus, marcados pelas constelações originárias.