Roberto Alban Galeria

Artistas Artista

Paulo Whitaker

Não mora na filosofia

Por Ana Luisa Lima

Ainda é através da pintura que podemos ter acesso a grandes histórias. Possivelmente, não mais os épicos de outrora. Mas cotidiano. Gesto. Forma. Acertos vindos dos desenganos. Enquanto alguns insistem que arte é demonstrar talento ilustrando conceitos filosóficos em suportes de mais de um plano. Paulo Whitaker, contudo, desfaz essa questão.

Não me é aceitável entender por que se pensou - e talvez alguém ainda pense -,  sobre a morte da pintura como passagem necessária, da arte, para outro estágio de evolução. Em termos de progresso o caráter positivo - a História esta aí para provar - não é atributo do humano. Explico-me perguntando: quais dos progressos, sobretudo, tecnológicos vieram para o bem-estar de todos e redenção dos terríveis equívocos de antes?

A idéia de evolução serve bem para acompanhar parâmetros da ciência, mas não para designar  o caminhar das outras construções humanas: a política, por exemplo. Porque se assim não o fosse, não era possível alguém passar despercebido, em seu automóvel (com ar-condicionado, injeção eletrônica...), por outro alguém que vem e se rastejando imundo, por ausência de pernas, em sua direção.

Quando falamos em arte, não é possível pensar numa evolução mas em presentação. Isso significa que cada espaço-tempo revelará (presentará) as manifestações artísticas que aquele momento histórico possibilitou, não só por inovações na tecnologia, mas, sobretudo, pela pulsão crítico-criativa de seus artistas. E essa pulsão, responsável pela produção simbólica desse determinado espaço-tempo, não (deve) vê diferença entre as obras feitas de tinta sobre tela, grafite sobre papel, projeção sobre monumento...

É preciso sempre ter em mente que arte é linguagem, é expressão, sobretudo, das contradições do que é ser humano. E não há linguagem mais visceral do que um corpo que se expressa através da tinta, com pincel em punho. Ora, certas manchas, nas obras de Paulo, para além de  “erros”, são índices de uma passagem, de um momento, de como seus pensamentos deslocam. É por isso mesmo que pela pintura é possível acessar grandes histórias a partir de nossas próprias histórias. Postos em confronto com a experiência do corpo do artista, deixada enquanto pinceladas, vislumbramos emoções e fluxos de pensamento que ele extravasa.

E não só isso, mas, Paulo Whitaker, com um suporte plano e representações em duas dimensões, consegue nos transportar para o mundo (in)imaginável do cotidiano ora com a nostalgia de uma canção do Chico; ora, como a criatividade imagética das canções de Caetano. Em Paulo, se vê que a arte necessariamente não mora na filosofia, tampouco numa hiperrealidade, ou em suportes de mais de um plano.



 

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