Peles
Caetano Dias
Os recortes feitos pelo artista Willyams Martins, no tecido urbano, nos revelam ações acumuladas de diferentes naturezas, onde distintos grupos deixaram suas impressões, criando um jogo pictórico trans-autoral, público e de livre participação.
Nos processos urbanos, tanto os apagamentos por acréscimo quanto os por deslocamento físico das pinturas, existentes nos muros e paredes, se inserem na dinâmica expressiva da cidade.
O trabalho de Martins se inscreve dentro das proposições conceituais de Duchamp, mas não apenas de apropriação e deslocamento, visto que o seu objeto é de impossível negociação, uma vez que possui camadas de diferentes autores.
O artista se apropria, justamente, desses substratos autorais coletivos, produzidos na cidade. Nessa medida, ele nos traz esse conflito como pós-obra e pressupõe o fim da autoria – da maneira como a conhecemos – para que possamos pensá-la dissolvida no espaço urbano.
O principal da obra de Martins transcende autoria e obra, indo em direção à trans-autoria, sendo o seu trabalho um corte no tecido urbano onde, sistematicamente, são colhidas impressões tatuadas no corpo da cidade, produzindo descolamentos e pós-autorias.