Roberto Alban Galeria

Artistas Artista

Willyams Martins

Peles grafitadas

Roaleno Costa

Willyams deseja mais que apenas a representação da cidade, quer possuir seus pedaços, seus depoimentos, fragmentos de cada história do dia-a-dia que se registram nos muros desgastados pelo tempo, reafirmando que ali, tem histórias a contar.

Como fazer para capturar, tomar posse desses fragmentos de cidade? Quais técnicas seriam ideais para alcançar este objetivo? Quais fragmentos seriam mais significativos à sua poesia pessoal? O que é importante falar ao fruidor diante da obra? De que maneira sensibilizar acima de tudo?

Começou suas investigações com algumas perguntas ainda sem respostas, com a determinação de que sabia que estava procurando alguma coisa que se faria visível, se revelaria somente a partir da sua imersão, sua perdição no fluxo das vias públicas, transformando-se em testemunha e agente da vida nas grandes cidades, sua existência no prazer e na dor, na fartura e na precariedade, contradições de todo organismo que nasce e morre para se renovar a cada instante.

A identificação com as pichações e os grafites foi o ponto de partida. O mundo noturno dos pichadores, a transgressão, suas reivindicações zociais, as desigualdades dentro do espaço da cidade, fazem parte do imaginário de Willyams no seu percurso artístico, nesta pesquisa e antes
dela, nas artes visuais ou na música, duas artes que cruzam-se em suas esquinas pessoais. É um entrechoque de forças que se movimentam em direções variadas e que somente estando perdido foi possível se encontrar. Willyams atirou-se nas ruas e deixou-se perder misturando-se às informações que vinham de todos os lados.

Percebeu a grandiosidade e complexidade dos sítios urbanos e sentiu as histórias que ali ficavam marcadas nas paredes, nos postes, nas placas, no asfalto. Desta sensibilidade começavam a surgir os primeiros passos rumo ao que ele viria a chamar de "peles grafitadas".

Deslocar vestígios, depoimentos, signos colocados no espaço público por anônimos, trazer para outro contexto foi seu objetivo principal. Recontar outras histórias, juntando fragmentos e fazendo de sua coleção de peles, um livro que documenta uma época em suas expressões parietais.

Como arrancar estas imagens? A solução técnica foi encontrada após sucessivas tentativas e envolvia ações que fugiam ao controle do atelier, expondo-se nas noites, nos cantos, colando tecidos e arrancando peles, num risco que envolve adrenalina e torna cada trabalho mais especial
pelas histórias que iam se sobrepondo entre ações e registros. O resultado, com possibilidade de desdobramento, é uma obra singular, descoberta na simplicidade e complexa em sua potencialidade discursiva no contexto contemporâneo.

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