Roberto Alban Galeria

Artistas Artista

Willyams Martins

Peles - Linha conceitual da obra

Williams Martins

O que nomeio peles são inscrições, desenhos, manchas em cores, jateamentos de spray e restos de cartazes encontrados nas superfícies desgastadas dos muros, compondo imagens que o tempo certamente se encarregará de apagar. As peles são também os pedaços de tecido voal colados com a resina de poliéster  transparente sobre esses signos visuais encontrados nas superfícies murais, acontecendo daí a revelação e descolagem. Portanto, faço referência às peles como se fossem pedaços da própria pele da cidade, tatuadas com as mais variadas mensagens/imagens que terminam por preencher os vazios dos espaços urbanos. Busco, assim, estabelecer um diálogo com esse grande organismo vivo, marcado pelos homens que nele habitam.

Para revelar e remover as peles realizo incursões pelos espaços públicos e parietais, indo à procura das imagens “ideais”, para depois seleciona-las. Trata-se, pois, de uma experiência sensorial. As superfícies murais são de uma visibilidade que ultrapassa o que encontramos nelas mesmas. Um bom observador, então, não cessa de se surpreender no seu contato diário com essa estética de rua.

Com o fim de revelar as imagens desgastadas que estão nessas superfícies, utilizo uma técnica inusitada para fazer as remoções.  O procedimento é o seguinte: Coloco o tecido voal na parede, delimitando o espaço escolhido e pincelo a resina sobre o mesmo, fazendo acontecer a sua revelação. Passado algum tempo, retorno ao local e faço a descolagem, removendo os cascos da superfície. Aparece, então, colados ao tecido uma variedade de elementos que se encontravam impregnados revelados no muro, contextualizados como “documentos visuais da cidade”. O material removido torna-se peça que passa a compor a memória da cidade.

Essas peles removidas das superfícies dos muros são, no meu entender, expressões gráficas de um imaginário social, que nos remetem, muitas vezes, a um desabafo do homem comum, marca humana que se expõe a céu aberto, aguardando as intervenções do tempo. São reflexos de experiências anônimas, expostas numa espécie de vitrine do mundo em movimento, escapando das leis e das normas, disseminando uma teia polissêmica de significados.

O que designo como “documentos visuais” são essas peles, imagens/marcas de uma determinada cultura, retiradas do corpo da cidade e deslocadas para um ambiente diferenciado das ruas, do corre-corre da vida urbana, resguardadas/protegidas das ações do tempo, propiciando ao expectador comum uma reflexão acerca do seu conteúdo.

A identificação com determinadas imagens/traços foi o ponto de partida desse trabalho específico, da minha pesquisa, do meu percurso artístico pelas ruas. Percebi, então, através das itinerâncias grandiosidade e a complexidade dessas zonas urbanas analisadas e dei vazão ao meu desejo de produzir arte a partir desses fragmentos urbanos, encontrados pela cidade e adjacências, criando assim um sampler visual. Enfim, deslocar vestígios dos espaços públicos, aproximando essas imagens e ressignificá-los no espaço privado das galerias de arte, dando a elas uma condição estatutária de obra de arte, eis, pois, o meu objetivo.

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