A Alban Galeria tem o prazer de apresentar a exposição Paulo Whitaker & Alvaro Seixas - Pinturas que reúne a produção artística recente em pintura do paulista Whitaker, nascido em 1958, e do carioca Seixas, nascido em 1982 – além de apresentar, no segundo pavimento, uma sala especial com uma seleção de pinturas históricas de Whitaker, em uma rara chance de vê-las em conjunto. No total, cerca de 40 obras de ambos os artistas estarão em exibição, ocupando todo os espaços expositivos da Alban. A abertura acontece no dia 17 de agosto, às 19h30 e a exposição estará aberta para visitação do público em geral do dia 18 de agosto ao dia 23 de setembro. A mostra conta com um texto curatorial de Victor Gorgulho.
O mote da exposição, ao unir a produção em pintura destes dois artistas de distintas gerações, é justamente sublinhar a relação de admiração profissional mútua que há entre Whitaker e Seixas, uma vez que ambos atuam no campo da pintura de modo constante e quase exclusivo, elegendo-a como o território de exercício e prática principal de suas produções artísticas.
Whitaker, importante nome brasileiro no circuito da arte contemporânea do país e fora, acumula desde o início da década de 1990 exposições individuais e participações em mostras coletivas e prestigiosas Bienais, por conta de seu singular vocabulário desenvolvido no plano pictórico, referência para diversos artistas que iniciaram suas produções após o aparecimento de suas pinturas. Ainda que sua carreira tenha se iniciado apenas nos anos 90, tal vocação para a pintura no trabalho de Whitaker, não tardou em colocá-lo lado a lado com expoentes da famosa Geração 80, cujo intuito maior havia sido buscar um retorno total à pintura, após a década de 1970 ter presenciado um vigoroso mergulho nas correntes conceitualistas da arte.
"Quando comecei, fazia um trabalho mais figurativo e fui reparando que me interessava a imagem, mas não o que vinha de significado agregado a ela. Nesse momento comecei a buscar e a construir um repertório de imagens que até certo ponto não tinha possibilidades narrativas ou literárias e que se se alimenta dele mesmo, desdobrando, subtraindo, arrastando, acrescentando." Afirma o artista em um depoimento dado ao longo de sua trajetória.
No decorrer dos anos, Whitaker aprofundaria cada vez mais seu característico processo de pintura, entendendo a superfície plana da tela como um terreno cada vez mais fértil para o desenrolar de um dinâmico programa visual. Assim, o artista parte de uma imagem inicial, imaginada, para através do embate, dos acasos, das mudanças de percurso e do andamento da construção da pintura alcançar a imagem final. Whitaker seguirá utilizando este enxuto - ainda que um tanto poderoso - repertório autoral de formas e de cores, através de múltiplas e infindas possibilidades de recombinação deste sintético grupo de elementos. Seja lançando um olhar retroativo sobre a sua obra, ou mirando suas criações mais recentes, é inegável para o espectador a potente coesão que habita o resultado do processo de pintura de Whitaker.
"Noto que o caminho que meu trabalho em pintura tomou foi, de certa forma, mais ou menos o que eu havia antecipado: limpar, simplificar. Tentar arrancar mais imagens a partir de menos formas e possibilidades. E que está um pouco mais plano. Também agora tenho acrescentado, em alguns trabalhos, algumas massas de cor entre o fundo e as figuras, que, de certa maneira, adensam a imagem e criam uma falsa noção construtiva que tem me interessado. Sigo buscando imagens que me deixem em estado de suspensão, uma situação estável/instável, que me crie um certo desconforto e alguma plenitude (se temporária ou permanente, o tempo me vai dizer).", complementa o artista.
Seixas, integrante de uma prolífica geração de pintores cariocas que iniciam suas produções ao redor do início da década de 2000, com nomes de destaque espalhados por diferentes regiões do país, direciona - assim como tantos outros artistas desta sua fatia geracional - verdadeira admiração e respeito pelo trabalho Whitaker, que, da década de 1980 para cá seguiu trabalhando e produzindo incessantemente, debruçando-se apenas sobre dois suportes artísticos: o desenho e, sobretudo, a pintura.
De maneira análoga às escolhas processuais de Whitaker, Seixas vem desenvolvendo um singular vocabulário visual que partilha da liberdade de escolhas e decisões que conduzem a realização das pinturas do artista paulista. As telas do carioca, no entanto, diferenciam-se ao passo em que o tratamento a elas concedido aproxima-se um tanto mais da conjugação de referências distintas ao próprio universo da arte, frequentemente chegando em um território onde certo "caos organizado" se impõe no resultado de suas pinturas. Vale destacar, também, a constante oscilação de experimentação de Seixas em diferentes escalas em suas pinturas, ora dando um tratamento mais "flat" às telas maiores, ora investigando o acúmulo da tinta em robustos volumes que repousam sobre suas pinturas menores.
Para esta exposição, em diálogo com a obra do Paulo Whitaker, selecionei dois grupos de pinturas minhas: uma série de retratos, paisagens e naturezas-mortas, nas quais a figuração se afirma de maneira bem evidente; outra; uma série de pinturas de pequenos, médios e grandes formatos, cujos aspectos formais, abstratos, e densa materialidade muitas vezes as situam entre o pictórico e o escultórico.", diz Seixas, justificando suas escolhas para a presente mostra.
"Já as pinturas do Paulo, com quem divido o espaço expositivo, sempre me chamaram a atenção não apenas por suas cores e contrastes formais, ou por seu movimento visual, mas principalmente por sua densa materialidade, o que nunca me permitiu chamá-las com segurança de geométricas. Há um peso, literalmente falando, nesses objetos. Uma presença da matéria pintura e não apenas na superfície. Para além de geométricas, as pinturas de Paulo são também grandes ou pequenas, territórios ásperos, cheios de texturas, emplasto, acidentes. Por vezes notamos vestígios da presença do corpo do artista e do seu ateliê.", conclui o artista.
Sobretudo, a presente exposição nasce, portanto, desta relação afetiva e profissional nutrida já há alguns anos pelos dois artistas. Além disso, trata-se de uma mostra que conecta as produções pictóricas de cada um, muitas vezes por vias em nada óbvias, diretas. Cabe aqui ao espectador buscar ler as nuances e peculiaridades da prática artística de Whitaker e de Seixas para então poder identificar, entre estas, suas semelhanças, seus métodos processuais, ora em afinidade, ora em completa dissonância, assim como evidenciar os distintos usos das cores na obra de cada um; suas singulares maneiras de manipularem a tinta sobre a superfície da tela mediante uma miríade de variações gestuais e de suportes (pinceis, espátulas, a própria mão), e daí em diante.
Uma vez tomada esta consciência (possivelmente impressa de imediato, assim que o visitante adentra o espaço expositivo), entenderemos que não estamos diante de uma conversa artística da ordem da familiaridade passiva ou meramente complementar, mas, estamos nos colocando diante, sim, da peculiar conexão entre duas produções que, apesar de suas diferenças, encontram sua mais preciosa interseção em um território intergeracional em que a pintura reina como a prática eleita, por ambos, para dedicarem a maioria de seus esforços físicos e psíquicos ao longo de suas trajetórias artísticas. Dois artistas decididos em trilhar caminhadas que se encontram nesta espécie de encruzilhada habitada por admiráveis "devotos" da pintura; do ato de pintar enquanto um modo de compreenderem a si e ao mundo que os cerca.