Bahia de todos os santos: deuses negros, santos brancos
Karin Stempel.
Em sua obra, Eriel Araújo dedicou-se a processos de transformação de naturezas aparentemente bastante distintas, mesmo que os processos desencadeados através de seus trabalhos remetam à mesma linha das instalações de Marepe. Trata-se aqui também de processos de conhecimento, da auto-afirmação enquanto indivíduo, que descobre a si mesmo através de e em seus atos. No centro dos trabalhos de Araújo situam-se processos de transformação de materiais, a alteração de suas propriedades por meio da modificação intencional de estados de agregação – operações químicas e processos físicos observados superficialmente, que, no entanto, sempre nos fazem lembrar da origem da química a partir da alquimia e também da ligação de ambas com a Grande Obra.
Seu mais recente trabalho, “A busca dá imagem”, é constituído por uma armação de metal em forma de mesa em cuja superfície, coberta por uma camada de cera, foram introduzidos espelhos em alguns pontos. Num segundo nível da armação, logo abaixo, os visitantes acendem velas que aquecem a superfície metálica superior e fazem derreter a camada de cera. Com o tempo, são descobertos os espelhos escondidos debaixo da camada de cera, nos quais o visitante reconhece a sua própria imagem. Durante uma apresentação deste trabalho em um museu de Salvador, um observador perguntou a que santos as pessoas estariam ofertando uma vela. O candomblé responde: o santo está em você mesmo.