Habitat
Gemma Noris
Após uma vivência de dois meses no campo, no Alentejo, a artista traz algumas questões relacionadas com o habitat natural da vida humana, e a relação entre o corpo e o meio ambiente. O conjunto de trabalhos em exibição combina pintura acrílica e aquarelas com materiais e objetos domésticos, onde os fragmentos habitam o espaço e dialogam com o meio circundante num processo de assemblage e estratificação. As composições parecem albergar vários quadros dentro de cada tela, e estes ganham uma tal autonomia que se constituem como pontos de partida para percursos perceptivos independentes. Da extensão da paisagem natural, e a sua grandeza incomensurável, à dimensão intima da casa e ainda do corpo, última fronteira entre a subjetividade e o mundo. A partir da imersão no campo e da observação das suas espécies, Habitat reflete acerca do nosso modo de habitar o mundo, concreta ou simbolicamente, e levanta a questão da necessidade de um abrigo que carregue a energia da casa. Temos que ressaltar o facto da prática artística de Veridiana ter sido marcada por viagens contínuas e reajustes de morada pelo mundo. O deslocamento constante exige um exercício contínuo de mapeamento, assumindo a condicionante do efémero e do temporário.
Neste sentido é interessante a recorrência da metáfora do caracol, que leva a casa colada ao próprio corpo. A ideia de casa-móvel oferece uma visão nómada, onde o conceito de lar não define necessariamente um lugar físico e sim laços afetivos e enraizamentos poéticos.