Roberto Alban Galeria

Raul Mourão

O menor carnaval do mundo

Exposição10 Dezembro / 05 Fevereiro, 2022

A Roberto Alban Galeria tem o prazer de anunciar a exposição O menor carnaval do mundo, individual do artista Raul Mourão. Segunda exposição do artista na galeria, a mostra reúne um conjunto de 50 obras recentes do artista, oriundas de diferentes séries e campos de investigação de sua vasta produção, iniciada na segunda metade da década de 1980.

Expoente de uma geração que marcou o cenário carioca na década seguinte, Raul Mourão é notadamente conhecido por uma produção multimídia, que se desdobra em esculturas, pinturas, desenhos, vídeos, fotografias, instalações e performances. Frequentemente, o artista investiga os cruzamentos entre estes campos e linguagens, estimulando relações multidisciplinares em sua prática, lançando mão de um vocabulário visual único e de um peculiar senso de apreensão da realidade que o cerca.

Na entrada do espaço expositivo, uma espécie de parede-índice reúne um conjunto variado de trabalhos, sublinhando este senso de "desnorteamento or"anizado” proposto por Mourão, nos convidando a adentrar suas diferentes séries e campos de investigação a partir da sugestão de possibilidades diversas de relações a serem traçadas entre as obras em si. O artista não nos indica, assim, direções fixas ou trajetórias precisamente delineadas. Por vias opostas, nos concede, pistas e indícios que funcionam espontaneamente como disparadores destes inúmeros percursos a serem realizados por entre as salas da mostra.

O menor carnaval do mundo

Clarissa Diniz

O apaixonante alvoroço de um carnaval acontecido em 2021, em meio à pandemia, inflamou esta exposição. Contudo, o impacto que os poucos e intensos dias tiveram na memória afetiva de Raul Mourão não o incitou a fazer, desta mostra, um espaço-tempo de nostalgia. Como o escultor que é, a experiência carnavalesca entre um pequeno grupo de amigos, vivido em casa e quase que clandestinamente, o arrebatou por confirmar – desde a amizade, a solidariedade e a paixão – um dos princípios estético- políticos da sua obra: a redução como potência.

Há tempos que sua pesquisa tem sido marcada por investigações de escala. Num eterno ping pong, seus trabalhos ricocheteiam-se constantemente, elaborando versões de si mesmos que variam suas próprias alturas, amplitudes e materialidades. Com essas operações, Mourão parece perseguir o desejo de ocupar outras perspectivas, reposicionando nossos pontos de vista, mudando-os de lugar, convocando-nos a movimentos distintos, habitando cumes diversos.

Em que pese a tradição da escultura em monumentalizar-se, fazendo da ampliação das escalas um de seus maiores fetiches, a obra de Raul incide também na redução como estratégia de percepção e de ocupação espacial. Verter suas peças entre o mínimo e o máximo and back again aponta, desse modo, para a prática da redução como modelo de inteligibilidade. Reduzir o mundo, suas coisas e forças torna-se uma forma de circunscrevê-lo, significá-lo, compreendê-lo.

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O apaixonante alvoroço de um carnaval acontecido em 2021, em meio à pandemia, inflamou esta exposição. Contudo, o impacto que os poucos e intensos dias tiveram na memória afetiva de Raul Mourão não o incitou a fazer, desta mostra, um espaço-tempo de nostalgia. Como o escultor que é, a experiência carnavalesca entre um pequeno grupo de amigos, vivido em casa e quase que clandestinamente, o arrebatou por confirmar – desde a amizade, a solidariedade e a paixão – um dos princípios estético- políticos da sua obra: a redução como potência.

Cinco casas | 2021 | Aço corten | 325 x 295 x 130 cm
Duas casas | 2021 | Aço corten | 220 x 200 x 100 cm

Em O menor carnaval do mundo, Mourão reforça este interesse por mídias e suportes diversos ao apresentar obras recentes de diferentes séries de sua produção, todas realizadas nestes últimos anos. O conjunto reúne desde novas esculturas cinéticas a pinturas de sua série Janelas, de fotografias e pinturas da série SETADERUA à vídeos como Bang-Bang – obra já exibida em ocasiões anteriores, mas recontextualizada dentro do presente conjunto proposto.

SETA DE RUA PARA SALVADOR | 2021 | Acrílica sobre tela
Políptico com 4 partes de 100 x 100 x 5 cm
JANELA PARA SALVADOR #4 | 2021
Acrílica sobre tela | 200 x 140 x 4 cm
TORRE PILHA #2 | 2021 | Aço corten | 220 x 120 x 120 cm

Este desejo de Mourão de apresentar suas obras recentes através de uma abordagem transversal e heterogênea, revela uma dimensão há muito presente em sua prática, dado que o artista está constantemente a experimentar e esgarçar os limites de suas próprias criações, através de jogos de escala, repetições propositais, embaralhamentos e desvelamentos de toda sorte que pedem do espectador uma posição ativa na elaboração de chaves-de-leitura para a compreensão do todo.

O título da mostra alude tanto à uma dimensão narrativa, afetiva – um carnaval vivido junto a um grupo reduzido de amigos, dentro do período pandêmico – quanto aponta para um certo jogo de escalas proposto pelo próprio artista a partir da obra título da exposição. Escultura realizada em dois tamanhos diferentes, a obra homônima evidencia o desejo de Mourão de experimentar estas pequenas variações sobre um mesmo tema ou objeto, explorando uma mesma ideia por vias distintas, mas também complementares, insuspeitas.

O MENOR CARNAVAL DO MUNDO #1 | 2021
Aço carbono 1020 com resina sintética e cerâmica | 29,5 x 32 x 18 cm | Edição: 50
SWING MORINGA #2 | 2021 | Aço carbono 1020 com resina sintética e cerâmica | 36,5 x 30 x 20 cm
BANG BANG #1 | 2017 | Vídeo, trilha estéreo, loop

Suas bandeiras do Brasil, por exemplo - subtraídas de seus círculos centrais e do lema positivista de "ordem e progresso" - aparecem ao longo da mostra tanto em uma pequena versão p&b em tecido (dedicada ao grupo BaianaSystem) quanto em uma fotografia realizada na orla carioca, em parceria com o artista português Tomás Cunha Ferreira.

THE NEW BRAZILIAN FLAG #12 | 2021
DEDICADA AO BAIANASYSTEM
Tecido, moldura e vidro antirreflexivo
31,5 x 42 x 3,5 cm

Relixo, assim como o carnaval que inspirou esta exposição, não é um vídeo nostálgico. Ainda que reúna excertos que remontam à última década de sua vida, sua inebriante montagem não sacraliza o arquivo do artista, mas, ao contrário, o carnavaliza.
Desobedecendo cronologias, ignorando contextualizações geográficas, sem autorizações para o uso das imagens e, principalmente, cultivando aproximações insuspeitas, mediadas por ritmos e músicas que tratam imagens como corpos em movimento, Relixo performa a carnavalização que, de resto, age sobre toda a exposição.

Clarissa Diniz

Raul Mourão e Thiago Tambellini. RELIXO, 2021
trilha estéreo: Nado Leal 24'49''

A obra de Mourão alimenta-se, assim, de trivialidades e signos da vida cotidiana e de sua vivência da paisagem urbana, então interpretados e reconfigurados pelo artista em um processo de elaboração de seu olhar sobre eles, tão engenhoso quanto perspicaz, capaz de refletir sobre o que nos parece mundano, efêmero; mas também sobre questões mais amplas, como o contexto sócio-político do país.

Este fluxo entre as esferas individual e coletiva acontece em uma constante retroalimentação entre estes polos, resultando em uma produção artística de alta voltagem inventiva e linguística, em estado de ebulição e renovação contínuos, ao passo em que determinados temas, elementos e materiais seguem em experimentações constantes e variadas dentro do processo criativo do artista.

HANA | 2021
Aço carbono 1020 com resina sintética e cerâmica
42,5 x 45 x 15 cm

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