Ainda fazemos as coisas em grupo (Uma dança entre dois sóis)
Clarissa Diniz, Brígida Baltar, Ana Miguel
Ayla Tavares tem se interessado por fenômenos, imagens e sentidos que se dão no tempo - como a luz, a espera, o anoitecer, os caminhos, os fósseis. Seu fascínio pelo caráter constitutivo e mágico do tempo não se desvia, contudo, da fisicalidade, daquilo que a artista se põe a observar, estudar, catalogar: ao contrário, a matéria é a sua grande aliada na percepção dos movimentos daquilo que está sempre de passagem. É nesse sentido que a cerâmica emerge como protagonista em sua obra.
Terra mediada pela exposição ao calor, a queima da argila performa o tempo em ação. Assim impregnada, a cerâmica se torna uma espécie de evocação daquele que é o próprio calor-tempo: o sol. Instalação conjuga formas diversas de representação e interpretação dessa estrela e suas forças (o thanaka de Myanmar, o olho pineal (Bataille), equações do tempo, dentre outras), Uma dança entre dois sóis dá a ver também os interesses metodológicos de Ayla Tavares entre a arqueologia, a antropologia, a astronomia, a literatura, a física, a matemática. Coreografias que habitam o intervalo entre um sol que se levante e o outro que se deita.