Anêmonas do mar, placas tectônicas e uma gota de piche (das coisas que se movem muito lentas) - Residência Pivô pesquisa
Mônica Hoff
O barro toma a forma que você quiser. Você nem sabe estar fazendo apenas o que o barro quer”, dizia o poeta Paulo Leminski. Ayla Tavares sabe disso. “Esse barro que eu toco está aí há milhões de anos”, afirma a artista ao falar sobre sua relação com a cerâmica. “O grau zero da escrita é o pensamento”, complementa ao versar sobre a importância das palavras, e principalmente da poesia, em seu processo de criação. Numa busca constante pelo espanto, Ayla persegue o movimento lento, ou o lado oco da cerâmica e das palavras, o ponto exato em que a matéria se transforma em gramática e esta, em relação encarnada com a vida. “A nossa percepção do tempo, uma questão de memórias e amigdalas”, diz a artista. E entre peças de barro queimadas, inteiras ou cuidadosamente remendadas, e um pensamento dilatado em poesia, além de línguas vão surgindo outras formas de dizer o mesmo: vão nascendo anêmonas para dizer do lento e relevos para falar do dentro. Sobre a mesa de trabalho, palavras inéditas e peças inacabadas há milhões de tempos.