Roberto Alban Galeria

Artistas Artista

Ayla Tavares

Sinto as paredes do meu oco na presença do outro

Andressa Rocha

Tal como afirma Pedro Paulo Gómez², “a colonialidade do poder, uma categoria elaborada por Aníbal Quijano (1999), permite mostrar que existe uma continuidade entre o passado colonial e o presente pós-colonial nos processos de representação de sujeitos coloniais”. Ayla Tavares, nesse sentido, assume sua posição enquanto artista e desenvolve sua poética em um processo que subverte a narrativa colonial: Sonantes dialoga com a história da arte brasileira – ainda subserviente aos chamados centros hegemônicos - por meio da retomada de uma visualidade vinculada à produção das sociedades ameríndias. Sua obra materializa em forma sensível o apontamento de Mauad³ de que a memória vive em permanente tensão entre a ausência e a presença: presença do presente que se lembra do passado desvanecido, mas também presença do passado que irrompe o presente e atualiza-o. Observa-se, por conseguinte, uma reconquista do tátil: o barro surge como uma presença indicial de vestígio da mão que é ação, cria e, nesse caso, pensa?. É possível afirmar que há um desejo de resistência e de permanência da forma, além de uma tentativa de reflexão acerca da matéria em virtude de seu histórico de função utilitária. A artista apresenta a obra sem pinturas – as quais indicariam seu modo de uso - recobrindo sua superfície. Trata-se, desse modo, de uma proposição que busca evidenciar o vazio necessário para sua elaboração. O oco surge aqui como dado que evoca uma relação com o ruído do ambiente no qual Sonantes se insere e com o som que a própria obra apresenta a partir do contato com os indivíduos. Com uma singularidade poética, Ayla evoca o jogo entre Eu/Outro. Talvez seja essa a principal questão suscitada por ela, que convida os sujeitos a explorarem a própria estrutura da linguagem, estabelecendo uma relação com o que está dado e, sobretudo, com aquilo que falta.

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