Roberto Alban Galeria

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Voltaire Fraga

Voltaire Fraga por ele mesmo

Voltaire Fraga

No ano de 1927, estando eu em atividade publicitária no antigo jornal Diário de Notícias, do professor Altamiro Requião, e em uma das minhas peregrinações pela Rua Chile à procura de anunciantes, se deu o “estalo da arte”: vi na vitrine uma câmera fotográfica VAG 9 x 12 cm. Ao seu lado, como ilustração, havia uma fotografia da Floresta Negra, na Alemanha. Enfeitiçado, comprei a referida câmera e comecei a fotografar pessoas da minha família e paisagens pitorescas, preferindo as agrestes. Costumava mandar revelar e copiar as fotos em laboratórios das casas Garoto e Ao Mundo Elegante. Notando eu que os resultados não correspondiam aos meus anseios, preferi improvisar um laboratório em minha residência, na Rua Tuiuti, travessa da Rua Carlos Gomes. Para tanto me forneceu um amigo uma formula simples para chapas e papeis fotográficos, Emílio Zolar Fernandes, que era ajudante de laboratório na Fotografia Moderna, no Terreiro de Jesus. Fui adquirindo experiência prática e almejei ampliar as fotos que me eram mais gratas. Improvisei um rústico ampliador de folas flandres (cada foto gastava dez minutos de exposição).

No ano de 1930, foram inauguradas as obras urbanas da Colina do Bonfim. Fiz, então, uma documentação fotográfica das mesmas e mais uma serie de fotos pitorescas de praia e rua e as enviei para uma revista no Rio de Janeiro, para que fossem publicadas. Qual não foi a minha grata surpresa quando vi na revista O Cruzeiro as referidas fotos nas duas páginas centrais, sob o título “As Fotografias da Bahia de Voltaire Fraga”. Prossegui como simples amador da arte de fotografar até que um acaso me levou adotar a profissão. No governo de Landulfo Alves, tendo sido inaugurada a Escola Duque de Caxias, na Estrada da Liberdade, o então secretário de Educação, Isaías Alves, não estando satisfeito com as fotos oficiais feitas pelos fotógrafos do governo, e por indicação de um amigo, me pediu que tirasse algumas fotos que o satisfizessem. Munido da máquina e do tripé, estudei o melhor ângulo e descobrir que o ideal seria de cima do telhado de um armazém que havia em frente ao Colégio. Realizei a foto da qual ainda tem o negativo, em formato de 18 x 24 cm, já ampliada numa boa máquina da Kodak. A fotografia fez grande sucesso e comecei a ser requisitado frequentemente a fotografar eventos e solenidade para a Secretária de Educação, agora já mediante remuneração. Daí em diante comecei a “mourejar“ nos diversos ramos da fotografia social, documental e técnica.

As necessidades técnicas de fotografia constituíram um apelo para que eu adquirisse uma boa câmera, na qual pudesse trocar várias objetivas, de acordo com a necessidade de cada assunto. Por esse motivo, viajei para São Paulo e Rio de Janeiro, em 1943, em busca de uma câmera ideal: lá, num ambiente evoluído e mediante indicação de um grande fotógrafo alemão Erick Hessi, adquirir, em segunda mão, uma Linhof Super Técnica (9 x 12 cm), com cinco objetivas de diferentes distâncias focais. De volta pra Salvador, pude assim enfrentar as diversas dificuldades técnicas da fotografia, que eram feitas em chapas de vidro e filmes pacote 9 x 12 cm. Outrossim, tendo sido eu o pioneiro dessa câmera na Bahia, vários fotógrafos me procuraram para tomar conhecimento sobre as novas técnicas e tiveram que encomendar as câmeras, usadas, nos Estados Unidos. Em virtude da guerra, a câmera, de marca alemã, não estava sendo fabricada. Durante longo período trabalhei sob encomenda. Durante as minhas atividades para ganhar o pão de cada dia, concomitantemente, o que via de belo eu fotografava, para ter um documentário, como se fosse um amador. Tanto que guardei os negativos para ampliá-los os um dia, quando estivesse aposentado, como estou fazendo agora

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