Roberto Alban Galeria

No oco das horas

Liliane Dardot

Exposição06/Junho até 07/Julho, 2018

Liliane Dardot traduz em pinturas a força e o encanto da natureza

A artista mineira explora o magnetismo e a beleza das plantas do cerrado em mostra na Roberto Alban Galeria.

As características do solo, as cores da terra, a qualidade do ar, a incidência da luz. Tudo no trabalho da premiada artista mineira Liliane Dardot remete às plantas e à natureza, especialmente à vegetação de Cerrado, que muito a encanta "pela resistência, pela capacidade de se desenvolver nas situações mais adversas”. O resultado dessa jornada de observação e encantamento poderá ser visto na mostra No Oco das Horas, que a artista apresenta a partir do dia 6 de junho na Roberto Alban Galeria, em Ondina. A exposição permanecerá até 7 de julho, de segunda a sexta, das 10h às 19h; e sábados, das 10h às 13h.

"Nós somos seres da natureza. Assim como as plantas se transformam e se adaptam ao meio, regulam seus ciclos ao clima, buscam a água nas profundezas, se orientam para a luz, encontram as formas mais diversas para se propagar, nós também dependemos de uma sintonia para sobreviver. A vida contemporânea nos afasta de um contato direto com o meio ambiente em todos os seus aspectos. A consciência ecológica é muito importante”, afirma Liliane Dardot, que recentemente participou da prestigiosa mostra Radical Women: Latin American Art, no Brookling Museum, New York, EUA.

Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, Liliane Dardot formou-se pela Escola de Belas Artes da UFMG, mas foi em Pernambuco que começou a construir, a partir de 1978, sua carreira profissional, participando da criação da Oficina Guaianases de Gravura. Ao retornar a Minas, doze anos depois, ampliou a sua presença em mostras coletivas e salões de arte, recebendo diversas premiações nacionais. Iniciou também carreira internacional, participando de bienais em países como México, Colômbia, Inglaterra e Alemanha.

Nessa época, Liliane já havia se deixado encantar por um novo objeto de admiração e estudo: a natureza. "Ao retornar de Pernambuco, juntamente com outros artistas, passamos a construir ateliês em galpões geminados em um bairro em BH que naquele momento era pouco ocupado. E ali, no entorno do atelier, era o sertão! Nos terrenos vagos, uma vegetação de cerrado. A minha atenção toda se dirigia para as plantas: a força daquela beleza que a maioria das pessoas não conseguia ver. Primeiro foram os desenhos, preenchendo cadernos de anotações. Paralelamente, o imaginário das formas vegetais, invadindo as pinturas”.

Tecnicamente, a pintura de Liliane Dardot tem uma raiz muito forte na sua experiência com a litografia. A construção das cores se dá através de um processo muito particular de sobreposições de camadas. " Não trabalho com tintas prontas, preparo as minhas tintas com um médium acrílico e pigmentos de cores puras. As características do meu atelier, onde é possível trabalhar com a luz natural durante todo o dia, me proporcionaram perceber as variações na visibilidade da pintura de acordo com a luz incidente”, revela a artista.

Para a exposição na Roberto Alban Galeria, Liliane Dardot selecionou 15 trabalhos de pintura em grandes formatos. Mas além das telas, a artista inclui também uma instalação denominada ET ERAT NOX, onde, através de uma imersão, pretende propiciar uma alteração na nossa forma corriqueira de vivenciar o tempo, principalmente o que caracteriza o mundo contemporâneo. Trata-se de uma grande coluna suspensa, negra, de 6,20 m de altura, obtida pela articulação de uma sequência de saias que se projeta para o alto do espaço da galeria. "Pode- se adentrar por esse volume enigmático e então uma nova dimensão se revela, criada pela luz do grande espaço da galeria sem nenhum outro recurso tecnológico. A relação entre espaço e tempo, a luz e escuridão, o limite e o ilimitado, imagem mental e imagem real, o dentro e o fora e o verso e o reverso se fundem em uma experiência poética”, conceitua.

O trabalho de Liliane Dardot tem se desdobrado em outros campos além da pintura e do desenho. Há algum tempo começou a se interessar por instalações e ações incidentes em locais específicos. Uma de suas intervenções teve como objeto os nomes populares das plantas, principalmente as do sertão, e tomou forma nas cidades mineiras de Cordisburgo, São João d’el Rei e Belo Horizonte. "As pessoas caminhavam sobre o texto e iam lendo e até compondo novas palavras. Era o desafio de imaginar como seriam aquelas plantas e também o prazer de reconhecer algumas delas. A própria execução do trabalho, feito com a ajuda de jovens do lugar, envolvia gestos que lembravam a semeadura”, relembra.

Para o estudioso e critico de artes visuais Márcio Sampaio, grande incentivador do trabalho dos artistas mineiros, Liliane Dardot se destaca pela particular relação construída com o seu objeto de estudo, a natureza. "Tintas, terras, pigmentos são preparados e utilizados como literais adubos para fazer florescerem as formas. A matéria tem seu tempo de ação, de decantação, de impregnação, seu amadurecimento, na transformação quase microscópica operada pela sedimentação dessas misturas, até que, enfim, se possa colher com o olhar (e com as mãos) essa preciosa messe a que se dá nome de pintura”, escreve ele no texto que apresenta a exposição.

Serviço
Mostra: No Oco das Horas/ Liliane Dardot
Abertura: 06/06/2018, às 20 horas.
Visitação: 07/06/2018 a 07/07/2018 (segunda a sexta, 10h às 19h; sábado, 10h às 13h)
Local: Roberto Alban Galeria
Endereço: Rua Senta Pua, 53, Ondina
Tel. 3243-3982/ 3326-5633

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