Roberto Alban Galeria

Suco de Máquina

Marcelo Gandhi

Exposição15/Outubro até 14/Novembro, 2015

Suco de Máquina

Bitu Cassundé

Marcelo Gandhi se vê como um romântico do agora e na instância do presente rege o desafio de desbravar o improvável. O artista discute em seu conjunto poético questões que refletem acerca de posicionamentos pós-coloniais, orbitando em um gestual micropolítico, no qual a projeção da vida contamina sua visualidade em uma rede complexa de paradoxos: árabe, artista, freak, gay, índio, latino, negro. Há com isso uma maior radicalidade visual na sua obra, que se liquidifica em sua proposição e desagua na zona limítrofe entre arte e vida. Esses perpassam a idéia de um pensamento selvagem e científico e se retroalimentam em uma entropia de fusão e ruptura.

Índices  de uma natureza marginal se evidenciam em sua prática artística, provocando ebulição em  narrativas bastante antagônicas, desconcertantes, dispares. Seus trabalhos, enquanto equações, são tentativas de ver e dar visibilidade ao caráter monstruoso e fascinante de sua impureza racial e de sua visão do mundo, caótica, automática, pop. Um dado impactante que surge em seu processo é justamente a dimensão dos desenhos, que se iniciam em pequenas dimensões, delicados, em uma ordem mais subjetiva. Atualmente, adquirem uma nova estruturação e são contaminados por eixos do universo dos toy art, dos ready mades de Marcel Duchamp, dos quadrinhos, do cinema e do ocultismo. Impossível não citar também influências diretas com Walt Disney, Jeff Koons, bonecos Playmobil, Farnese de Andrade, Louise Bourgeois, H.R. Giger, Andy Warhol, Basquiat e etc.

Na exposição “Suco de Máquina” para a Galeria Roberto Alban, Gandhi apresenta uma série de desenhos em grandes dimensões e também uma animação. Esta surge da necessidade do artista de colocar o desenho em outros campos de experimentação e tensão, subvertido do seu lugar comum.

Essa necessidade incide de forma mais intensa em seu trabalho, desde a saída de Parnamirim (RN) para São Paulo. O habitar dessa megalópole tem lhe proporcionado um processo de criação mais intenso em vista de uma maior circulação e intercâmbios com outros artistas. Diante desse cenário, Gandhi entrou em contato com o Projeto Axial de Música Eletrônica e Vídeo Mapping, coordenado pelo pesquisador Felipe Julian. Este projeto realizou um concerto de Live Image Music, utilizando-se de imagens geradas por outros artistas em um trabalho colaborativo. Um desenho de Gandhi estava entre os escolhidos para participar desse concerto. Sendo o próprio Julian a trazer movimento para este desenho, a animação conservou e até realçou as camadas e sobreposições do desenho original, além de revelar um caráter arquitetônico e estrutural a alargar, assim, questões espaciais e temporais com a cidade, a transitoriedade e a repetição presente na pulsação do bpm (batidas por minuto).
   
O artista também apresenta na exposição, objetos, (brinquedos) como se fossem totens, verdadeiros deuses pós-industriais. As relações conceituais e formais, perpassam sua relação lúdica, misteriosa, com a vida e com a morte. Para o artista, pensar e fazer objetos é um ato mágico de influenciar o mundo e de encontrar nestes uma espécie de âncora para mares revoltos.

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