Roberto Alban Galeria

Voltaire Fraga, hoje (entre o ontem e o amanhã)

Voltaire Fraga

Exposição30/Agosto até 30/Setembro, 2019

A Bahia poética de Voltaire Fraga na Roberto Alban Galeria

A mostra reunirá 36 imagens produzidas por um dos mais importantes fotógrafos baianos de todos os tempos

O fotógrafo baiano Voltaire Fraga produziu alguns dos mais sensíveis registros de uma Bahia que não existe mais. Seu olhar instigante, situado entre o artístico e o etnográfico, percorreu os muitos cantos da cidade de Salvador, flagrando o cotidiano do seu povo, suas tradições e festejos, sua espontaneidade nas ruas, sua herança religiosa e cultural. Uma parte dessa obra poderá ser vista entre 30 de agosto e 09 de setembro, na Roberto Alban Galeria, no bairro de Ondina. Uma rara oportunidade para mergulhar no universo de um dos mais importantes fotógrafos que da Bahia.

Especialmente entre 1930 e 1960, Voltaire Fraga circulou pela cidade com sua câmera Volkslander, de origem alemã, registrando o que lhe tocava a alma. Por isso mesmo, as fotos produzidas, sempre em preto-e-branco, revelam-se de um primor estilístico e conceitual que impressiona. O reconhecimento nacional teve como marco uma exposição realizada em 2009 pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, sob curadoria de Diógenes Moura, que reuniu cerca de 100 fotografias do artista.

Na atual exposição na Roberto Alban Galeria a curadoria é de Dilson Midlej, doutor em Artes Visuais e professor da Escola de Belas Artes da UFBA. Midlej enaltece o que considera um diferencial no trabalho de Voltaire Fraga: "O que o distingue é justamente o olhar poético denotado em suas narrativas visuais, o universo temático e as preferências estilísticas que tomam forma por meio dos recursos possibilitados pela fotografia (enquadramento, claro-escuro, texturas, filtros, desfocagem da imagem, etc.)", observa.

Para chegar às 36 fotos que vão compor a atual mostra, Midlej obedeceu a alguns critérios. O principal deles foi selecionar imagens para compor os núcleos temáticos da obra de Voltaire. Nesta perspectiva, a exposição abrange: 1. a água e regiões bucólicas da cidade (a Ribeira, o Dique do Tororó, a Praia do Porto da Barra, a Praia do Farol da Barra, os saveiros na Rampa do Mercado etc) 2. A iconografia da cidade: vista da Cidade Baixa com o Elevador Lacerda, Praça Castro Alves, Praça Municipal, Mercado Modelo etc) 3. as festas populares e as baianas e 4. os trabalhadores (feirantes, ambulantes). "São nestes dois últimos núcleos que se evidenciam mais notadamente as preocupações de transmissão de valores humanistas dignificantes, impregnados nos papéis sociais dos sujeitos de suas fotografias", observa o curador.

Ele explica que Fraga se insere em âmbito sociohistórico bastante abrangente por praticar fotografia social (por privilegiar o contexto social como um dos seus principais temas), conciliando-a com projetos pessoais. "Sua sensibilidade e apuro técnico alçaram-no a um patamar que o distinguia da produção regular dos demais fotógrafos, mesmo quando cumpria pautas jornalísticas ou trabalhos comerciais. Assim, sua visão artística se conformava intrinsecamente com os recursos da técnica fotográfica", diz.

Voltaire quando vivo fez apenas uma exposição na capital baiana , em 1999, aos 87 anos de idade, e sempre se indignou com a falta de reconhecimento de sua arte. Num determinado momento, chegou a pensar em queimar todos os seus negativos, alguns dos quais um dia chegaram a estampar as páginas centrais da revista O Cruzeiro, de circulação nacional.

Resta, portanto, a possibilidade de contemplar alguns exemplares da bela obra deixada por Voltaire, que é representado com exclusividade pela Roberto Alban Galeria. Nessa exposição, intitulada "Voltaire Fraga, Hoje (entre o ontem e o amanhã)", as 36 fotos selecionadas, com tamanhos variados, expressam algumas referências que tanto encantaram o fotógrafo. Expressam, sobretudo, o seu amor pela Bahia: a Bahia das pessoas simples, dos prédios marcantes (muitos já inexistentes), da natureza prodigiosa, do encantamento das ruas.

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