Entrevista
Pablo León de la Barra
Na terça-feira, 22 de outubro de 2024, às 15 horas, o artista carioca Raul Mourão recebeu em seu atelier na Lapa o curador mexicano Pablo León de la Barra, que vive no Rio para uma conversa sobre a exposição "Volume Vivo". Sentados entre duas grandes mesas que sustentam diversos trabalhos em andamento e rodeados por algumas das obras da exposição, Mourão e de la Barra discutiram não apenas os detalhes de "Volume Vivo", mas também a prática artística de Mourão e o afeto que ambos nutrem pela cidade de Salvador. A seguir, alguns trechos selecionados dessa conversa.
Pablo León de la Barra:
"Assim como as grades permitem ver o que está do outro lado, quem está dentro consegue ver um pouco do mundo de fora, e isso se torna uma espécie de instrumento de mediação. Não é aquela ideia da pintura como janela — a pintura clássica que é uma janela para outro mundo — mas sim a grade como um instrumento de mediação."
"Você está repensando essa relação entre o que é o desenho, o que é a pintura, e também pode fazer o mesmo com a escultura. No outro dia, quando visitei seu estúdio, você comentou que são pinturas feitas por escultores. Agora procuro a citação exata do que você disse, mas a essência foi que, "na pintura, minha ferramenta não é o pincel, é como se na extensão de minha mão existisse um alicate."
Raul Mourão:
"Minha relação com essa exposição inaugura uma espécie de diálogo com a cidade, uma homenagem a ela. Ela surge a partir de uma certa energia que atravessa minha relação com Salvador. No entanto, tenho um respeito profundo pela cidade e me sinto como se estivesse sempre iniciando uma relação."
"As fotos das grades retornam, mas não mais como um comentário sobre segurança pública. Agora, são um comentário sobre o grafismo da cidade, sobre um desenho que se acopla à arquitetura de forma mais poética, e não brutalista."
Pablo León de la Barra:
"Raul, o artista, como criador de estruturas que não são apenas estruturas físicas ou objetos de arte, mas também estruturas de trabalho, estruturas de ação e estruturas de exposição."
"De alguma maneira, você funciona como um artista-curador explicitamente. Não sei se como curador, mas você é um pouco um agitador de tudo isso, permitindo que todas essas vozes criem polifonias, onde podem coexistir."
Raul Mourão:
"Essa relação com o ferro e a tradição do aço é algo que compartilho. A minha grade que está lá é uma grande pintura colorida, não é mais um objeto físico, como a grade que observamos lá embaixo."
"A exposição reúne a pesquisa das grades de proteção dos casarões antigos e dos bairros históricos, em diálogo com minha série de fotografias de grades. Em Salvador, porém, encontro um outro tipo de desenho ornamental e decorativo, uma serralheria mais leve, com materiais mais simples e que exibe desenhos exagerados, um pouco além do necessário para a segurança."
Pablo León de la Barra:
"O que acho interessante é como existe essa relação com a história do material do ferro. Além disso, muitas vezes o que parece ser ornamentação nas janelas servia para transmitir outras histórias. Por isso, acho que seria uma linha interessante de trabalho que ainda dá para continuar explorando."
Raul Mourão:
"As esculturas cinéticas que estarão na exposição têm um certo desenho que, para mim, internamente, remete a um balanço da cidade, a uma musicalidade que percebo quando estou lá, de férias, nas festas ou nos ensaios dos blocos e apresentações musicais."
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