Roberto Alban Galeria

Aproximações contemporâneas

Coletiva

Exposição18/Abril até 31/Maio, 2013

Aproximações contemporâneas

Paulo Venancio

Uma exposição da arte brasileira atual só pode ser aproximativa. Nenhuma pode ser conclusiva nem definitiva, nem poderia ser, tampouco esta, mas como breve recorte e situação oportuna de um encontro de obras, esta exposição pode muito bem revelar, ainda que parcialmente, o fato novo que é o momento presente da arte brasileira onde se manifestam os elementos de uma tradição contemporânea que se expande e que encontra repercussão e envolvimento no contexto artístico global. Daí, sem dúvida, sua modesta pertinência e oportunidade.

A contemporaneidade artística brasileira cada vez mais é caracterizada pela diversidade, multiplicidade e heterogeneidade, resultado do recente e crescente processo de expansão das linguagens artísticas que entre nós já constitui uma tradição própria que nos distingue no contexto global. Existe hoje um conjunto amplo e significativo de artistas que se formaram neste contexto artístico que, antes de sofrer influências externas já encontravam aqui referências com as quais dialogaram, transformaram e renovaram; tudo aquilo que já se processava entre nós desde o final dos anos 1950 - nossa tradição contemporânea nos faz pioneiros deste incógnito e indefinido contexto artístico atual. Aqui estão algumas indicações das múltiplas possibilidades que este recente contexto da arte manifesta, e que são, provavelmente, as mais diversas do que em qualquer outro período histórico e ao qual nossa inserção é irreversível. E, embora, explorem assuntos e linguagens distintas, é possível encontrar já nelas uma original conformação artística ainda que os trabalhos estejam em um inevitável processo de transformação, como não poderia deixar de ser. Lado a lado, creio, a diversidade e heterogeneidade dos trabalhos podem, efetivamente, ser apreciadas como verdadeiro confronto revelador e
esclarecedor; ainda que parte muito delimitada de um contexto mais amplo. Portanto trata-se de uma exposição que busca explorar as potencialidades de cada um dos artistas e do conjunto deles de tal modo que o espectador, em contato direto, ele próprio possa experimentar a complexa e plural condição da atualidade.

O que se apresenta aqui, fragmento da nossa contemporaneidade, faz parte e é prolongamento da história da nossa singular dinâmica artística de mais de cinco décadas. Portanto, não é de surpreender a facilidade e fluência com que artistas e obras ingressam e transitam nesse atual contexto ampliado da arte. São artistas que ainda absorvem e reagem às variadas direções artísticas disponíveis, ainda que formados dentro do ambiente local, conscientes e críticos da história e importância próprias que vem da nossa inserção recente como parte relevante do processo global da arte.

Diálogos, associações, afinidades e oposições existem, seja através das formas, técnicas, linguagens e assuntos, sem, entretanto, formar um sentido geral definitivo ou hierarquizá-los prematuramente, essa nova e abrangente condição artística na sua atualidade não se fixa em parâmetros históricos e critérios artísticos precisos e definitivos. A diversidade, heterogeneidade e multiplicidade de não está só nos temas,
assuntos ou conteúdos, também nas linguagens e nas mídias nas quais os trabalhos podem aparecer ora como, desenho, pintura, escultura ou fotografia, ou ainda como algo de indefinida e incerta sistematização.

Por qual critério então se orientar ao propor uma exposição significativa do contexto contemporâneo? Apresentar artistas de uma mesma geração pressupõe que enfrentam o mesmo contexto e experimentam suas diversas possibilidades. E, ainda que explorem assuntos e linguagens diversas, é possível encontrar uma forte consistência artística embora os trabalhos estejam em transformação, como não poderia deixar de ser. Chamo consistência artística um certo núcleo consolidado que já estabelece uma certa coerência própria que pode ainda estar em curso. Aí, creio,
essa diversidade pode, efetivamente, ser experimentada verdadeiramente como um confronto estimulante e esclarecedor. De uma forma ou de outra estão aí tanto com as tendências contemporâneas brasileiras surgidas a partir das vanguardas dos anos 60 do século passado e também com a nossa ainda ativa pulsão moderna e que revelam a amplitude em que num novo contexto se torna visível as conexões e continuidade históricas, ou seja, o presente atual evocando o passado recente.

O propósito então é apenas sugerir os diálogos, as associações, as afinidades e oposições que existem, sejam através das formas, técnicas, linguagens, assuntos, etc., ou seja, indicar um sentido geral, que também existe, sem hierarquizá-los prematuramente, mostrar essa nova condição artística na sua inquietude atual sem fixá-la em parâmetros históricos definitivos.

Esta nova condição histórica diz respeito não só as artes plásticas, mas também as outras esferas da cultura; teatro, cinema, literatura, arquitetura, embora nenhuma delas ocupe no panorama global o lugar que as artes plásticas brasileiras ocupam na atualidade. Daí, sem dúvida, a urgência e exigência de se apresentar a contemporaneidade artística brasileira: apresentar aos outros e, principalmente, a nós mesmos, eis o desafio.

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