Roberto Alban Galeria

Conversa tranquila na Praia da Paciência

Paulo Whitaker

Exposição07/Novembro até 07/Dezembro, 2013

Paulo Whitaker

Eva-Maria Schumann Bacia, Freiburg

Sobre as Pinturas de Paulo Whitaker
“A arte é uma abstração: derive esta abstração da natureza, enquanto você sonha com ela, mas pense mais na criação do que no resultado.” (Paul Gauguin, 1888)
Na obra de Paulo Whitaker, tanto nas pinturas como em seus desenhos, percebe-se um trabalho perseguido com insistente e constante seriedade e constata-se sempre o mesmo impulso e ímpeto: a busca determina sua ação. Em todos os seus trabalhos, essa busca pode ser reconhecida e identificada como processo. Um processo que se torna patente por meio de numerosas camadas, ocasionalmente diáfanas e translúcidas da pintura controlada, composta cuidadosamente à exaustão, do mesmo modo como em seus trabalhos sobre papel, que se caracterizam por vestígios gestuais concretos e abreviações rapidamente esboçadas. As formas encontram sua configuração sobre o branco do papel ou sobre a superfície colorida monocromática, em extensão e número propositadamente reduzidos. Ao gestual a que se rende, na realidade, Paulo Whitaker não se entrega totalmente e, como jamais perde o controle sobre esse gestual, em seu caso apenas poderíamos falar de uma “espontaneidade controlada”.
Sua obra não pode ser inserida no âmbito do Expressionismo abstrato nem na tradição informal ou na chamada field painting; entretanto, sua obra seria impensável se deixássemos de levar em consideração qualquer uma dessas tendências. Paulo Whitaker busca a forma e, inclusive na redução dos meios pictóricos, sua atenção está voltada sobretudo para uma coisa: a forma.
Com a criação da forma e sua subsequente correção por meio do ato de borrar, do recobrir, do fazer emergir uma variante em outro ponto, com a negação da forma pelo esfregar e pelo deixar desaparecer completamente, Whitaker questiona tenaz e constantemente a problemática do que existe ainda hoje para ser pintado. O artista como que isola este seu questionamento com base num resumido repertório de formas, um repertório questionado ao longo dos anos, lentamente ampliado e que, com variações, sempre torna a emergir como um Leitmotiv e que constante e renovadamente narra uma história como de seres animados que sofrem – ora são mais fortes, ora mais fracos, falam mais alto ou são mais silenciosos, desaparecem e tornam a ressurgir. Entretanto, Whitaker não divaga para o literário, e o grau de abstração de seus quadros permanece perceptível.
Pois, embora em algumas formas as associações se ajustem ao concreto, suas invenções imagéticas não são jamais concebidas tridimensionalmente, permanecendo presas ao estado de uma abreviação plana e abstrata. Isto se deve ao fato de que o artista leva em consideração em seu trabalho a bidimensionalidade natural do fundo do suporte, além de transferir como fator determinante as coordenadas de altura e largura da tela para a própria linguagem pictórica do quadro propriamente dito: nem perspectiva, nem luz e sombra modelam um espaço de profundidade. Somente a linha e a massa são determinantes para sua linguagem pictórica. Paulo Whitaker desenvolve um código compacto de sinais que apresentam uma coesão formal entre si. Deste modo, ocorre uma cornucópia de significâncias, embora de uma maneira tal que todas elas, sem exceção, retornam como uma figura do mundo pictórico imaginado pelo artista. Assim, os trabalhos de Paulo Whitaker encontram-se como que “entrelaçados” por uma linguagem imagética que permanece constantemente viva em novas criações, semelhante ao processo que ocorre com a linguagem falada, que se mantém viva por meio dos neologismos. A seriedade com a qual Paulo Whitaker enfrenta o questionamento que insiste em se colocar, ou seja, “o que é possível expressar por meio da pintura?”, permite que a pesquisa e o invento se fundam numa única coisa: uma busca por vestígios, por rastros duradouros que remetam ao “de há muito conhecido”, mas, ao mesmo tempo, que não se abstenha de investigar algo novo.
Diferente de Gauguin, que utilizava a natureza como ponto de partida para a inspiração, Whitaker reveste sua linguagem pictórica com a própria história da arte. É a história que forma a transparência na qual ele se baseia refletindo. Aquele que contemplar uma obra do artista e não tiver em mente que todo o desenvolvimento da história da arte deverá ser incluído como pressuposto fundamental certamente se sentirá perdido.
Paulo Whitaker coloca elementos de sentido de maneira tão abrupta, um ao lado do outro, elabora zonas com coisas pertencentes a contextos tão distantes um dos outros que o olhar se vê forçado a concentrar-se em detalhes. Forçando perspectivas pontuais e, deste modo, uma enorme flexibilidade, ele consegue vincular significados: as correspondências são chamadas às armas, mobilizam contra organizações hierárquicas. Whitaker cria uma trama semântica de relações. Aspectos isolados deixam-se associar com outros; a partir de parataxes surgem nós de significado, existem sempre superposições e espaços vazios. Para Whitaker, o importante é apresentar relações.
Sua ação é sensorial e intelectual ao mesmo tempo: a dinâmica própria do pincel guiado pela mão ou a linha do grafite são corrigidas pela intervenção, pela avaliação do intelecto que não perde vista a composição, freada por arreios. A pintura de Paulo Whitaker está totalmente ancorada no presente, ele presta sua contribuição ao meio, hoje tão explorado, da pintura com a exploração autorreferencial do processo de trabalho e da criação de formas.
Assim como John Cage, Whitaker está muito longe de vincular um depoimento metafísico com suas obras. Embora em seus quadros ele apenas aborde a figuração de modo alusivo, sem querer entrar profundamente na problemática central da representação, ele é visto por alguns como alguém que, no âmbito da arte abstrata mais amplamente, se movimenta rumo à figuração. Os “concretos”, entretanto, continuam a considerá-lo um artista abstrato. Qual é, portanto, sua posição? Mais uma questão: Será que as formas encontradas, um esboço rápido sobre uma superfície monocromática, de certo modo nos sugerem que nesse ponto a pintura americana denominada field painting se encontra com o Romantismo europeu? Engano, porque, com sua obra, Paulo Whitaker não fornece uma contribuição à metafísica, e é preciso enfatizar outra vez que sua pintura surge ao redor da pintura por sua própria vontade. Para Whitaker, o que importa é a procura incessante por algo que só se pode expressar e pesquisar por meio da pintura.
Dra. Eva-Maria Schumann Bacia, Freiburg
 

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